Por Guilherme de Carvalho
Não sou utópico. Não tenho ilusões
sobre o caráter do mundo e das pessoas, nem tento me convencer de que as coisas
não estão tão ruins. Pois as coisas estão mesmo muito ruins. Não sou um
otimista irracional, seja do tipo triunfalista-religioso, seja do tipo
progressista-secular. Não penso que as coisas darão certo se mantivermos o
pensamento positivo, ou se dermos educação ao povo, nem tenho certeza de que as
coisas sempre darão certo para mim no futuro.
Mas também não sou cínico. Nem por
isso sou cínico. Não posso me defender da decepção reprimindo os meus sonhos!
Não quero manter na boca o gosto amargo das frustrações do passado. Não me rio
da alegria inocente de quem sofreu pouco, nem desconfio da alegria serena de
quem sofreu muito. Não posso permitir que o mal que me cerca cegue as minhas
vistas ao bem sobre o qual estou de pé...
Então, o que sou?
Sou cristão. Não sou utópico nem cínico, porque através da nuvem
de maldade, feiúra e falsidade - que está aí, não nego - eu vejo a luz da
bondade, da beleza e da verdade! Porque quando aspiro a fumaça deste ar impuro
eu sinto o oxigênio, e o respiro; porque no fundo da realidade inteira, na sua
fonte oculta e profundíssima o que habita é a alegria absoluta, o amor
original, e a imortalidade de tudo o que é digno, santo e valioso neste mundo!
Por isso creio na Igreja, como diz o
Credo Apostólico. Eu creio na Santa Igreja Universal porque através desse
frágil vitral trincado brilha uma luz divina. Sei que ele está rachado, mas sei
mais ainda que uma luz o atravessa e vai parar colorida sobre o meu corpo. Eu tenho esperança na Igreja porque pedras
quebram vidraças, mas não apagam o Sol da Justiça. Então não lançarei pedras,
nem fecharei meus olhos, nem fugirei para o escuro; consertarei vidraças e
farei vitrais!
Eu creio na Igreja porque a Igreja é
a nação da esperança; porque ela aprendeu a ver o fundo do universo, descobriu
a fonte da luz, sentiu o oxigênio em seus pulmões. A Igreja deixa a alegria
entrar sem prender a respiração, como os cínicos medrosos, com seu
bem-informado pessimismo cosmológico. E assim, saciando-se de alegria como de
uma fonte invisível, a igreja dá esperança!
A Esperança é um dom divino. Ela não
confunde, "porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi outorgado". A Esperança não sabe se ainda vai
chorar muito ou pouco, mas sabe que um dia saltará de alegria. Porque no
Espírito, ela já vive esse dia.
Eu creio na Igreja porque tenho
Esperança.
E a esperança não será frustrada...
porque é a obra do Espírito Santo!
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